O que são?
As infeções sexualmente transmissíveis caracterizam um grupo de doenças que afetam os humanos e que são devidas a vários agentes patogénicos (vírus, bactérias, fungos, parasitas). São infeções que são predominantemente (mas não exclusivamente) transmitidas através da prática de relações sexuais de qualquer tipo, sejam orais, anais ou vaginais.
Em qualquer caso, convém que os parceiros regulares das pessoas com IST’s sejam também testados, uma vez que podem estar infetados e continuar a infetar inadvertidamente os parceiros.
Quais são?
As IST dividem-se em vários grupos, consoante o agente causador. Assim, temos:
- Bacterianas: Sífilis, Gonorreia, Clamídia, Cancro mole;
- Fúngicas / parasíticas: Tricomoníase, Candidíase;
- Virais: Hepatite B, Herpes Genital, VPH e VIH;
 Vamos analisar cada uma destas doenças mais em pormenor (sintomas, diagnóstico, tratamento), com menção particular no caso do HIV.
Vamos analisar cada uma destas doenças mais em pormenor (sintomas, diagnóstico, tratamento), com menção particular no caso do HIV.
1. BACTERIANAS

Sífilis – lesão primária
SÍFILIS
Agente causador – Treponema pallidum (bactéria)
Diagnóstico – Exame VDRL (positivo após 4 a 6 semanas do contágio)
Sintomas – Incubação de alguns dias até 3 meses, após o que se seguem várias fases:
Fase primária – Lesão avermelhada e indolor no local onde a bactéria penetrou no organismo (por exemplo, no interior da boca, ânus ou vagina – ver foto).
A lesão desaparece após 3 a 6 semanas, mesmo sem tratamento, e inicia-se uma fase sem sintomas, em que a pessoa se sente (falsamente) curada.

Sífilis – erupção cutânea
Fase secundária – Começa subitamente, com febre, erupção cutânea (ver foto), dores musculares e articulares, perda de peso e de apetite, gânglios aumentados por todo o corpo. Após algum tempo, os sintomas voltam a desaparecer.
Fase terciária – Cerca de um terço das pessoas infetadas a
tingem a terceira fase da sífilis, irreversível e potencialmente mortal. A doença ataca o coração, o cérebro, a pele e os ossos, gerando complicações muito graves.
Tratamento – Uso de antibióticos.
A cura não evita a reinfeção, pelo que o uso do preservativo é essencial.
GONORREIA (“esquentamento”, em linguagem popular)
Agente causador – Neisseria gonorrhea (bactéria)
Sintomas – Por vezes sem sintomas; após 2 a 8 dias do contágio, pode surgir dor e/ou ardor ao urinar, acompanhada ou não de corrimento peniano ou vaginal com pus ou amarelado.
Diagnóstico – Coleta de urina ou exsudado uretral / vaginal para análise laboratorial. Exames de sangue são mais raros, mas podem também ser usados.
Tratamento – Uso de antibióticos.
A cura não evita a reinfeção, pelo que o uso do preservativo é essencial.
CLAMÍDIA
É a IST mais comum a nível mundial.
Agente causador – Chlamydia trachomatis (bactéria)
Sintomas – Por vezes sem sintomas; após dias ou semanas do contágio, pode surgir dor e/ou ardor ao urinar, acompanhada ou não de corrimento peniano ou vaginal com pus ou amarelado.
Diagnóstico – Coleta de urina ou exsudado uretral / vaginal para análise laboratorial. Exames de sangue são mais raros, mas podem também ser usados.
Tratamento – Uso de antibióticos.
A cura não evita a reinfeção, pelo que o uso do preservativo é essencial.
CANCRO MOLE
Agente causador – Haemophilus ducreyi (bactéria)
Sintomas – Após um a 30 dias do contágio, surgem uma ou mais úlceras na região genital, muito dolorosas e que sangram facilmente.
Diagnóstico – O mais comum é a observação das lesões em consultório médico.
Tratamento – Uso de antibióticos.
A cura não evita a reinfeção, pelo que o uso do preservativo é essencial.
2. FÚNGICAS / PARASÍTICAS
TRICOMONÍASE
Agente causador – Trichomonas vaginalis
Sintomas – Após uma a quatro semanas da infeção, surgem habitualmente dor, ardor ou urgência em urinar, acompanhados ou não de corrimento de odor desagradável. Convém destacar que nem todos os casos apresentam sintomas.
Diagnóstico – Realizam-se exames laboratoriais e também exame físico, no próprio consultório do médico.
Tratamento – Uso de antibióticos.
A cura não evita a reinfeção, pelo que o uso do preservativo é essencial.
CANDIDÍASE GENITAL

Candidíase na língua
Agente causador – Candida albicans (fungo que vive no organismo humano, mas habitualmente é controlado pelo nosso sistema imunológico, não causando doença. Quando estamos mais debilitados, pode surgir a candidíase).
Sintomas – Alguns dias após a infeção, podem surgir placas esbranquiçadas ou corrimento esbranquiçado na vagina ou no pénis, assim como inchaço, vermelhidão ou desconforto ao urinar. A doença pode também surgir na boca, no intestino ou, em casos mais graves, noutras partes do tubo digestivo, como o esófago.
Diagnóstico – Colhem-se amostras da vagina ou do pénis por meio de material apropriado.
Tratamento – Uso de antifúngicos.
3. VIRAIS
HEPATITE B
Em Portugal, esta doença é facilmente prevenível pela vacinação, que é altamente eficaz.

O vírus prefere alojar-se no fígado
Agente causador – HBV (vírus da hepatite B).
Sintomas – Após um a 6 meses de incubação, surge febre, cansaço, aumento dos gânglios, icterícia (pele e olhos amarelados), devido à invasão e lesão do fígado pelo vírus. Por vezes não apresenta sintomas.
Diagnóstico – Exames de sangue, que detetam o próprio vírus ou anticorpos contra ele.
Tratamento – Consiste em repouso e tratamento dos sintomas associados. Na grande maioria dos casos a doença evolui para a cura espontânea, com imunidade contra futuras infeções. Contudo, algumas pessoas tornam-se portadores crónicos do vírus.
Os exames permitem distinguir as pessoas vacinadas, que nunca tiveram contacto com o vírus, que estão ou estiveram infetadas, assim como os portadores crónicos.
HERPES GENITAL

Herpes genital
Agente causador – HSV-2 (herpes genital), mas também pode ser causado pelo HSV-1, o mesmo que causa herpes labial. Por esta razão, a pessoa com lesões ativas de herpes labial deve evitar fazer sexo oral desprotegido, sob pena de contaminar a outra pessoa.
Sintomas – Aparecimento de úlceras idênticas às do herpes labial, cerca de 1 a 2 semanas após o contágio.
Diagnóstico – Observação das lesões e análise do líquido nelas contido (altamente rico em vírus).
Tratamento – Pomadas e comprimidos antivirais.
Esta infeção pode ser transmitida mesmo com uso de preservativo, uma vez que o simples contacto de pele infetada com pele saudável a descoberto pode ser suficiente.
A infeção pelo vírus do herpes é incurável – mesmo sem sintomas, o vírus permanece no organismo para toda a vida, ressurgindo episódios de lesões de tempos a tempos. Alguns fatores desencadeantes são, por exemplo, épocas de maior stress ou a exposição ao sol.
INFEÇÃO VIH (conhecida – erradamente – como SIDA)
A infeção pelo HIV é, de longe, a mais temida das IST. Inicialmente foi identificada entre homossexuais norte-americanos e é hoje uma pandemia, com mais de 40 milhões de pessoas infetadas em todo o mundo, muitas delas sem o saberem.
A situação portuguesa é igualmente preocupante – estima-se que possam estar infetadas em Portugal cerca de 50 mil pessoas. Ora, se tivermos em conta que muita gente desconhece que é portadora da infeção, aliada ao caráter “silencioso” do vírus, urge realmente informar e prevenir, uma vez que ainda não existe cura nem vacina.
Agentes causadores – VIH-1 e VIH-2 (Vírus da Imunodeficiência Humana)
Sintomas – O VIH age atacando e enfraquecendo progressivamente o sistema imunitário humano, levando a uma gradual destruição do mesmo (durante vários anos). A pessoa fica muito mais vulnerável a doenças e alguns tipos de cancro devido ao colapso das defesas, sendo por isso chamadas de “doenças oportunistas”. É nesta situação mais extrema que podemos falar em infeção VIH de tal forma avançada que já atingiu o estado de SIDA.
Nalgumas pessoas, cerca de 2 a 4 semanas após a infeção, pode surgir um quadro tipo gripe, com febre, dores musculares e articulares, dor de garganta e uma erupção na pele. Este quadro passa espontaneamente ao fim de uma a duas semanas, e a pessoa não volta a ter sintomas senão vários anos depois, quando o sistema imunitário começa a falhar.
Contudo, em muitas pessoas nem sequer surgem sintomas, ou são tão leves e confundidos com uma gripe comum que a pessoa não vai ao médico.
Diagnóstico – Só uma análise específica pode dizer se alguém está infetado. Esse procedimento é conhecido como “o teste”, pesquisando habitualmente anticorpos contra o HIV no sangue da pessoa. A lógica é simples: se tiver havido infeção, o corpo vai reagir fabricando anticorpos contra o vírus.
IMPORTANTE: O teste de anticorpos contra o VIH não deve ser feito logo após a possível infeção. Deve ser sempre respeitado um “período de janela” (período de tempo entre a infeção e um resultado correto no teste), uma vez que temos de dar ao organismo algum tempo para que ele fabrique quantidades de anticorpos detetáveis pelo teste.

Na dúvida, faça o teste – é melhor saber!
E QUANTO TEMPO DEVO ESPERAR PARA FAZER O TESTE?
Habitualmente, com um teste de anticorpos de terceira geração, o período de janela a respeitar vai de 5 a 6 semanas (até 45 dias). Muitas fontes ainda referem 12 semanas (3 meses), mas sabemos hoje que esse prazo é exageradamente conservador.
Testes mais modernos (de quarta geração) pesquisam, além dos anticorpos, uma proteína produzida pelo VIH nas primeiras semanas de infeção antes do surgimento dos anticorpos (chamada antigénio p24). Para estes testes, o período de janela é reduzido para 4 semanas (28 dias).
Existem outro tipo de testes (PCR, NAAT) que pesquisam o próprio vírus, mas são muito caros e não estão aprovados para o diagnóstico da infeção em Portugal, uma vez que geram muitos resultados falso-positivos (o teste indica infeção, mas a pessoa não a tem).
Um grande problema em termos do diagnóstico da infeção VIH é exatamente o oposto, ou seja, a questão dos resultados falso-negativos (o teste não indica infeção, embora a pessoa a tenha). Estas pessoas, muitas vezes, comportam-se como seronegativos, não procurando tratamento para si e infetando outras pessoas. Este comportamento também é seguido por aqueles que nunca se testaram, embora mantenham relações sexuais desprotegidas frequentes – os chamados “serointerrogativos”.
Ora, sob tratamento médico adequado, pensa-se que um seropositivo nunca venha a desenvolver SIDA, e possa ter uma esperança de vida normal. Além do mais, estudos recentes apontam para a impossibilidade de alguém seropositivo em tratamento adequado conseguir transmitir o vírus.
Sugestão de leitura: “Seropositivos já chegam a velhos”
Por tudo isto, é essencial que todos os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos…) alertem para a situação das IST em Portugal, em particular no caso da infeção VIH. Nos últimos anos, com o surgimento das terapias antiretrovirais que permitiram colocar a infeção ao nível duma doença crónica, parece ter-se desenvolvido a ideia de que o VIH é um vírus menor, que já não mata “como dantes” e que, por isso, “já podemos ter sexo desprotegido sem problemas”.
Nada de mais errado. Não podemos NUNCA baixar a guarda!
Importa salientar que uma pessoa que já esteja contaminada e não o saiba (ou, sabendo, negligencia a sua própria condição e não busca tratamento) pode estar a transmitir a infeção a outros, e também a reinfetar-se, o que piora imenso o prognóstico, uma vez que corre um risco muito significativo de desenvolver um tipo de VIH resistente aos tratamentos.
Por outro lado, com uma boa adesão ao tratamento, a probabilidade de transmitir o VIH (mesmo com sexo desprotegido) é já considerada desprezível, o que permite, por exemplo, que se um casal serodiscordante (em que um dos parceiros esteja infetado) quiser ter filhos, o possa fazer pela via natural (por meio de sexo desprotegido).
Esta situação (já para não falar da possibilidade de ter uma vida absolutamente normal, em que a esperança de vida se assemelha à da população geral) é uma ENORME conquista a favor daqueles que vivem com VIH, bem como das suas famílias!
Por último, nunca é demais relembrar: se o VIH surgiu e se multiplicou devido ao nosso comportamento, compete-nos a nós combatê-lo da mesma forma. Use preservativo, sempre! Usado da maneira correta e de modo consistente, do início ao fim da relação anal ou vaginal, assegura uma proteção efetiva contra o VIH.


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